domingo, 19 de setembro de 2010

Meu jeito de dizer que te amo!

"As palavras não faladas; As melodias não cantadas; As poesias nunca recitadas; Serão, mesmo que erroneamente e atrasadas, Aqui, neste tão lúgubre lugar, choradas!"

Todos já estavam de partida. Os sapatos bem engraxados iam em direção ao grande portão comido por ferrugem. Uns iam de braços dados, outros com o pescoço sobre o ombro do que estava ao lado, outros de mãos dadas e até outros com as mãos nos bolsos. Todos, sem exceção de um, com uma veste tão caóticamente padronizada que anunciava o motivo de suas presenças.
Menos uma pessoa permaneceu imóvel no mesmo lugar onde ocupara há duas horas antes. Verticalmente ileso por qualquer sentimento que fosse, o homem de tamanho punho elagante olhava fixamente, porém distante, para o grande mármore a sua frente. A grande caixa de mármore estendida que antes tivera sido algo tão valioso para sua vida.
Ele não tinha lágrimas nos olhos. Ele ainda não precisou - ou não conseguira - usá-las até o momento. Movimentou-se e com um tremendo esforço sentou-se ao lado do tumulo recém plantando.
"Aqui jaz àquela que tanto soube amar e a compreender o amor.
Dedicada mãe e esposa que deixou imensas saudades"
Eram estas as palavras que haviam no tumulo daquela mulher que um dia fora sua esposa. Uma vida toda de expectativas resumida à uma oração de tão poucos verbos - versos. E agora? Como preencher aquele vazio tão imenso que se fixava em seu peito? Como apagar a dor que teimava em pousar em seu duro coração?
"- Eu sei que não fui o melhor dos maridos, e talvez nunca tenha sido bom. Talvez tenha sido bom só no começo do casamente, ou talvez até termos nosso primeiro filho. Talvez eu tenha perdido um pouco da sensibilidade contigo quando a nossa menina também veio, ou tenha perdido a paciencia pela falta de atenção.
Sei que não fui um bom amigo, e sei também que nunca sentei ao pé da cama contigo para rezar. Sei que me aturava, mesmo eu roncando, mesmo eu te empurrando. Isso são coisas de quem ama. Sei que você não gostava da maioria das coisas que eu gostava, mas suportava para me fazer feliz. Agora, eu sei que a maioria das coisas que você gostava eu fazia de tudo para me safar e não participar contigo.
Sei que a maioria das vezes - ou até mesmo todas as vezes - o meu egocentrismo agiu mais em mim do que minha propria vontade de viver em comunhão. Sei que poderiamos ter conversado mais vezes, e ter gritado muito, muito menos vezes. Ah! E sei também que poderia ter te dado mais conforto e carinho. Carinho que uma mulher incrivel como você merecia.
Me perdoe por todos as vezes eu machuquei você com minhas palavras mal elaboradas, pelas noites que cheguei em casa estressado e descarregava em você. Por gritar com você, por trair você até. Me perdoe por ser assim - tão estúpido e desleal. Eu fugi da minha propria lealdade.
Sei que custei muito para falar tudo isso - na verdade - eu aprendi todas essas coisas a partir do momento que soube que não te teria mais. As vezes somos tão estupidos com as coisas que amamos, que só valorizamos quando já não a temos mais em nosso dominio. É, esta é a sina de quem não fala, sofrer com o silêncio terrivelmente barulhento.
Meu grande amor, sei que custei pra falar-te tudo isso. Sei que é tarde demais, ou não - prefiro acreditar que nunca é tarde para se entender o que entendi. Apenas se tornou tarde!"
E então, após aquele triste, amargurado e soluçante monologo, ele enxugou de sua face enrrugada tantas lágrimas que deveriam ter caído na caminhada, mas que se desaguaram no mar do perdão eterno. Suspirou por fim, pegou a linda rosa amarela em sua mão esquerda, deitou sobre o túmulo e levantou-se. Comtemplou novamente a figura embaçante e surreal daquilo que antes teria sido uma incrivel pessoa e mais uma vez fez um gesto de fala:
- Eu te amo! É, isso mesmo meu amor. Era isso que você tanto ouvir de mim né? E eu nunca falei pra ti. Ou se falei, há tanto tempo, já havia esquecido. Te amo com todas as minhas forças. Envergonhadamente eu te amo. Mesmo assim, erroniamente e tardio, este é o meu jeito de dizer que te amo.
E deu de costas em passos lentos e firmes ao solo gramado. Na certeza de ter se lavado em palavras e na esperança de ter sido perdoado. Porque amado, isso ele tinha certeza, era demasiado.





Abraço à todos.
Robério Marques

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Desafio do Gosto!


"Nenhum cheiro ou gosto
é repulsivo de nascença; e
aquilo que foi aprendido
pode ser esquecido."

Acostumamo-nos a escolher (denominar) e muitas vezes erroniamente, o que é o bom e o que é ruim em nossas vidas. Nossa forma autoprotetora de escolher o melhor para nós. O que seria o o bom? O que predomina no ruim?
Antes de tudo, eu tenho que lhes dizer para não confundir a mente: Mesmo abragendo um vasto conteúdo, estou falando de sabores. Exatamente, sabores!
Na aula de História da Gastronomia o professor nos instigou a várias questões sobre os alimentos e bebidas que de certa forma evitamos em nossas vidas (pelo gosto, pelo cheiro, pela a má lembrança que já trouxe a nós) e o interessante é que eu
de início peguei-me a indagar qual seria o alimento que eu não comia e não comeria de jeito nenhum e por qual razão não o comia. Será que existe algo que eu simplesmente não coma? E incrivelmente, ao tempo que passei refletindo as indagações, me veio diversos alimentos que não eu comeria naquele exato instante. Entre eles cito três frutas bastante dessemelhante: O sapoti, com sua cor totalmente desagradável, o açaí com sua textura escura e sumo extremamente bagaçento e – não tão mais importante das demais – a fruta de cor amarelada, cujo odor faz-me arrepiar e com um gosto terrivelmente forte – o Murici. Sim, seria o Murici, fruta que nunca - absolutamente nunca - apeteceu meu paladar a eleita para a minha vivência de sabores.
Vivência de sabores? Sim! Lançou então , o professor, um
desafio muito interessante: Fazer uma vivência de sabor com um alimento que em hipotese alguma você chegaria a provar. Um tanto quanto cruel. Mais o interessante é que você vai descobrindo os limites que você encontra com você mesmo. A vivência seria de seis dias, onde você iria, primeiramente, escolher o alimento (a parte mais dificil), e em seguida iria preparar diversas formas de desgustar o mesmo. Tente fazer e logo após faça um relatório de como foi o seu progresso ou regresso. Colocarei em breve o meu por aqui!
Vamos juntos fazer o desafio?
UMA REVOLUÇÃO DO PALADAR...


(As vezes, o que os olhos vêem, a boca não prova... rsrs)

Abraços à todos e saudades!