quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A fila!

Já era quase meio dia e nada daquele grande amontoado de pessoas andar.  Seja pelo sistema suficientemente lento que não permitia o serviço fluir, seja pela falta de proatividade dos dois míseros caixas que estavam em seus turnos. 
Mas nunca, absolutamente nunca, me espantava com o tamanho e a proporção da fila, a mesma fila que sempre pegava no começo do mês para receber salário e pagar minhas contas. 
- Ei, cadê o gerente desta joça? Esta fila que não anda.
- Cadê os nossos direitos? É um absurdo!
- Parece que tá andando é de marcha ré.
O som das falas ecoava por todo o salão condensado por um ar frio e ao mesmo tempo caloroso, devido a grande quantidade de massa parada aguardando a sua vez. As frases soavam como protesto, mas eram vistas como algo cômico.
É engraçado estar num ambiente onde se propaga uma verdadeira torre de Babel - pessoas de diferentes tipos, atipicamente diferentes, num único lugar, dividindo os seus tempos independentemente dos valor que possuem em suas contas correntes. A fila tem um poder terrivelmente social de igualar as pessoas num único patamar - esperando sua vez para ser atendido, sem diferenças, sem nenhum tipo de predileção.
Já se passara mais dez minutos, havia uma senhora na minha frente que trocava de posição a cada dez segundos, devido seu peso alto - trocava o pé para sustentar o peso do corpo; atrás de mim tinha um irritante rapaz que estava ouvindo musica com os fones e cantava uma ou outra frase perdida de uma música qualquer. Mais a frente tinha uma mulher já de meia idade que era a casca dura da fila, já tinha ido umas dez vezes no caixa reclamar e perguntar o que tava acontecendo para a lentidão - sempre tem uma pessoa deste tipo e é engraçado vê-la agir. Mas ao longo da fila aparece um casal. Os dois vinham em direção a fila e pararam bem em frente ao caixa. Isso só podia significar uma coisa: PRIORIDADE.
Mas era óbvio que não fazia sentido vê-los ali  Como nós, seres humanos, somos tão egoísta e egocêntricos. Claramente se percebia uma mulher desengonçada, que foi arrancada de seu ambiente de trabalho caseiro e que carregava um bebê sonolento em seus braços e um marido com no minimo uma duzia de boletos em suas mãos. Ninguém protestou nada, afinal de contas, é uma mulher com crianças de colo. Era a vez deles, e para fazer uso de tal prioridade ele lançou para ela os boletos a serem pagos. O engraçado foi vê-la estranhar e supostamente odiá-lo naquele momento por não perceber que ela estava com a criança. Com um mal ensaiando lance de braços devolveu-o os papeis com um rubor em sua face.
-Proximo!
O caixa gritou ao finalizar o pagamento da "prioridade". Os dois então se afastaram do caixa e andaram em direção a porta de saída, sem nenhum constrangimento ou mesmo uma expressão de desconfiança na cara, afinal de contas, eles estão no direito de ter a prioridade. 
O resto da fila continuou lá, inerte, sem mover-se. Eu os observava no meu canto e imaginava como é, no minimo, interessante esta forma brasileira de pensar e agir.Só conseguimos ver nossa individualidade, com os nossos problemas, com os nossos 'afazeres'. 
A porta se fechou novamente e o casal já se perdia de minha visão. Quanto a fila? Permanecia lá, do mesmo jeito que era, fazendo o mesmo ato social de nos unir a esperar. Agora era a vez de um executivo - este sim vai demorar.

Um comentário:

  1. Nossa que delicia. Senti saudades de estar aqui no Palavras. Expressar e colocar uma coisa do cotidiano no papel não é algo tão fácil, porém você sempre consegue realizar tal feito meu querido. você e seus contos fizeram falta.

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