domingo, 23 de maio de 2010

A corrida

O suor pingava por cima do nariz. Os poros artisticamente dilatados fazia-o transpirar como nunca tivera transpirar. Os pés dentro daquele tênis clamavam por socorro, pedindo para que acabasse logo. Todo o seu corpo clamava, mas só ele sabia que tinha que terminar o que havia começado.
"Estou quase lá, não vou desistir agora. Vamos lá!" - ele se auto-extimulava, para que seu corpo parasse com a flagelação emocional. Dobrou a esquina e viu entre tantas pessoas em pé, aplaudindo. Certamente estava perto, mais do que nunca. Estava a 15km/h, era o máximo que seu corpo aguentava. As pessoas pelas calçadas brandavam-lhe e aplaudia para ele, e tão consciente de si, fazia uma festa por dentro. Porque ele sabia que iria conseguir terminar.
Os pés já não ardiam, o corpo estava revigorado pela sensação do momento. Cruzou a linha de chegada. Mais aplausos. Ele parou, o corpo sofreu um impacto tão grande, como se fosse um elefante sentando em cima de si mesmo. Uma pressão passou por entre os vasos sanguineos e ele vacilou. Caiu e com o olhar turvo não conseguiu ver mais nada, além das bandeirinhas que voavam sobre sua cabeça molhada.
Alguns rostos familiares vieram ao seu auxilio e o ajudaram a recompor-se. Ele já tivera o conhecimento de que isso poderia acontecer, afinal de contas, seu corpo se esforçou tanto que quando teve uma quebra do esforço, ele não aguentou e caiu.
Olhou para o lado e para o outro. Em busca do letreiro que marcava os resultados até o momento e viu seu nome lá, estampado, grande, com aquela luz vermelha que refletia à luz do sol. Quarto lugar e uns minutos a mais que o terceiro lugar.
Caiu a ficha. Não estava nos três melhores. Tanto esforço, tanta dedicação, tanta dor. E o que tinha recebido era um quarto lugar. Ficou desconsolado. Pensativo. Jogou água sobre a sua cabeça para resfriar o que estava fervendo por dentro. Agora, ergueu a cabeça, olhou para os lados, identificou os outros três que conseguira fazer um melhor tempo que ele e falou com cada um. Parabenizando-os pelo feito, pela marca que fizeram e pela colocação que levaram. Mas ele falou com uma sinceridade tão forte que se emocinou ao abraçar o técnico que o ajudara nos treinos. Não conseguia conter o que saia de seus olhos, então o outro meio desconcertado, pegou-lhe pelos ombros e apenas com o olhar perguntou o que houve - apesar de saber a resposta.
- Sempre dei o melhor de mim, sempre me foquei na primeira colocação, sempre me coloquei no podio como o primeiro e nunca olhei para os degraus abaixo para perceber que mais pessoas tiveram a mesma perspicácia que eu tive. E agora eu estou no degrau de baixo, olhando lá para cima, olhando que os outros tiveram a mesma dedicação que eu tive, sentiram a mesma dor que eu senti, se esforçaram da mesma forma como eu me esforcei. Então eu percebi que não importa em qual local eu chegue, o importante mesmo é saber que eu consegui aquilo pelo qual tanto treinei, finalizar a maratona. As colocações? Os tempos? As dores? São apenas consequências do feito que fiz. É a concretização para o esforço ao qual passei e da dedicação que me submeti. Me decepcionei por um instante, mas neste momento sinto-me orgulhoso de mim, deles, e dos outros que virão a concluir a prova. Porque conseguimos chegar onde nós queriamos chegar. Isso, além de todo o resto, é o que basta no momento. Com o tempo, ai sim, poderei me adequar e chegar numa colocação melhor. Mas, novamente, será apenas uma consequência daquilo que tanto quero.
O tempo estava umido e abafado. Desagradabilissimo. Os pés, que entrava em atrito com a sola do tênis lhe mostrava que estava perto do fim. O cansaço, o suor morno, a roupa leve, porém, molhada de suor, mostrava que o caminho já estava se findando. Desta vez não havia tanta flagelação de si mesmo. Havia mais concentração. Mais amor e mais sabedoria. Desde a ultima vez, há um ano atrás, ele sabia que havia evoluido. E que desta vez, tivera feito diferente. Rasgou a linha de chegada. Não notara ninguém, nem o letreiro. Entrou em sintonia com o seu corpo. Não vacilou e agradeceu a si mesmo por conseguir se realizar mais uma vez.



(A estrada é longa, o percurso é cansativo, mas a chegada é gloriosa e honrosa. Saibamos nós buscar nossos objetivos, lutar por eles e se dedicar à eles. Que saibamos entrar na estrada e só parar no instante em que nos realizarmos. Pode dar uma pausa para descansar, afinal, ninguém é de ferro. O importante é chegar aonde se quer chegar.)

inté mais. :D

7 comentários:

  1. É e quão longa é essa estrada!!!
    Se pararmos no meio do caminho e olharmos para as circuntâncias, aí é o fim. Mas vale correr, ter o quarto luga do que não correr e não tentar.
    é ai onde estar a nossa essência, onde aprendemos e a cada dia melhoramos um pouquinho.
    Sem medo de errar, focando sempre aquilo que queremos e onde pretendemos chegar...
    Eis a nossa frente uma longa estrada.

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  2. Para tudo, existe o primeiro passo. E esse é tão importante quanto a chegada. Que saibamos reconhecer todo o nosso esforço, toda a nossa determinação, toda a nossa entrega, quando nos propusermos a iniciar qualquer estrada. O processo acontece dentro de nós. ser um dos três primeiros na linha de chegada? É consequência...
    Muito obrigada pela visita, pelo carinho, e pela companhia. Já estou a lhe fazer companhia aqui também! Um beijo carinhoso, Deia

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  3. Robi voce e um querido :)
    me adicione, se quiser...
    margarida.serralheiro@hotmail.com

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  4. É isso aí... seguir em frente, sempre!

    ótimo post!

    Abraço

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  5. Concordo plenamente:
    O importante é chegar onde se quer chegar...
    Lindo texto... motivador...
    Bjos e boa semana!
    =D

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  6. Perfeito!
    Parabéns pelo blog.

    Abraço

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  7. Rob...

    Chegar a um determinado lugar é certamente reconhecer que houve um esforço físico para isso.

    No final das contas, entende-se como reconhecimento do 'esforço' e não, do 'objetivo'. Visto que o objetivo do esportista citado nesse texto seria certamente estar entre os 3 primeiros e não, ser o quarto.

    Entende-se também que um objetivo pode ter sua importância "reduzida" no tocante ao seu significado.

    Assim, para os 3 melhores colocados, o objetivo foi alcançado e tiveram uma posição de destaque na competição.

    Para o esportista do texto, foi alcançado outro objetivo: o de ter atravessado a linha de chegada.

    Certamente, para os que sequer chegaram próximo à linha de chegada, acreditaram que o objetivo deles era ao menos participar da competição.

    Não se entra numa competição para perder.
    Isso pode causar traumas para alguns que lamentam as horas, os dias, as semanas, meses e até anos de preparação para uma competição.

    E "aceitar" a chegada como um "objetivo" alcançado, é também aceitar que o importante não é de fato a colocação.
    E isso infelizmente, não encontramos com tanta facilidade.

    Cansamos de ver pessoas se lamentando inclusive com a primeira colocação (quando se acham capazes de terem feito um "tempo" melhor).

    Coisas do ser humano que acaba querendo além do que pode ter.

    Betinho do Bem (Reflexão & Emoção)

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