sábado, 3 de abril de 2010

PROJETO R.M.





- CAPÍTULO UM -
RUA NORTE

A rua era deserta, nada se ouvia ou se via além dos assobios que o vento produzia por entre as calhas da Rua Norte. No verão continha jardins bem cuidados, com diversos tipos de roseiras, que davam um verdadeiro espetáculo de beleza e de cores; o gramado era cortado excelentemente bem e dava as casas de ambas às extremidades um tom de meiguice e ao mesmo tempo de metodismo; as caixas de correios eram pintadas e ficavam com um tom vívido, as varandas das casas possuíam cadeiras, bem acolchoadas, para receber visitas.
Mas era Outono de 2009, o clima estava extremamente gélido e seco em todo o país, ao menos pelas noites. Não havia um arbusto sequer entre os parapeitos das casas. Não havia nem ao menos uma orquídea estranguladora entre os grandes Pinheiros, que por sua vez, não havia folhas e muito menos estavam modelados em formas quadráticas; as caixas de correio já haviam perdido as cores e agora eram apenas caixas de madeira velha contendo fungos demais; as varandas das casas estavam vazias, sem um móvel por perto, sem nem ao menos um tapete de “Bem-vindo”, pois não havia visitas naqueles tempos, era como se as pessoas hibernassem na tão velha Inglaterra. Todos já haviam se recolhido para se aquecerem entre a lareira da sala de estar, menos uma pessoa ao final da rua Grisólia.
Era velha, com um carrinho de supermercado superlotado de tralhas e outras coisas que catara durante o dia. Uma velha moradora da Rua Mineis, do outro lado da Rua Norte. Vinha ocultando os passos pelas neblinas e cantarolando com os lábios ressequidos uma canção desconhecida; suas pernas pareciam dois nós de veias quebradas devido à velhice e a cabeça era de um tom extremamente opaco. Vinha em direção à Rua Norte para tomar logo em seguida um beco que dava acesso ao velho casebre que morava fazia anos.
Foi penosa a caminhada até a esquina das duas ruas até que seus passos cessaram ininterruptamente e estava avistando ao longe, não muito que uns quinze à vinte metros de distância algo realmente grande. De inicio não sabia se o que estava vendo era de fato verdade, ou se seus olhos míopes estavam a lhe pregar uma peça. Ficou parada, imaginando o que seria aquele grande entulho jogado ali, no final da rua.
“Um bêbado? Melhor nem passar por perto”, pensara ela. Mas um impulso de coragem e curiosidade foi puxando-a mais para perto, para bisbilhotar o que era de fato. Aproximou-se e hesitou um pouco ao perceber que de fato era um homem que se encontrava lá, naquele caminho deserto e escuro. Tentou bisbilhotar o máximo que pôde, mas a imagem estava longe demais, o que, ocasionou que não conseguira distinguir a imagem perfeitamente. Via apenas o vulto, agora bem mais nítido, óbvio, mas apenas um vulto deitado, mas pode perceber que o homem estava demasiado bem vestido para ser um bêbado que ficara jogado ao leu pelas ruas. Aproximou-se um pouco mais e se encontrou a mais de três metros do entulho.
O Medo agora sobressaltara-se sobre seu corpo e tomou conta de suas pernas e ali paralisada na penumbra da noite, não sabia o que fazer e nem ao menos a quem recorrer. Não sabia se ele estava morto, teria que se aproximar o máximo que o medo permitisse para de fato comprovar se estava realmente convicta de seus pensamentos. O homem, não era tão velho, não obstante jovem e poderia ter uns quarenta anos de idades, assim supunha a velha. Se possuía cabelos brancos? A imagem dos olhos dela, ainda desfocada, não lhe dera muitas definições do corpo horizontalmente apresentado. Contudo, o homem portava um sobretudo em meio tom cinza, os sapatos aparentemente bem engraxados eram pretos e brilhantes, também estava com chapéu muito galante, sobreposto ao seu lado esquerdo.
A visão que estava tendo só lhe permitia olhar o lado esquerdo do homem, havia um relógio em seu pulso, um relógio realmente bonito. Foi se aproximando aos poucos e com cautela foi podendo ter um visão mais ampla e bem mais detalhada. Agora podia perceber que ele tinha sim, os cabelos grisalhos, e apesar de estar no chão, deitado, naquela noite de ventania, permaneciam fiéis à um penteado fino e lambido para às suas costas. Podia ver, agora, que ao lado direito do homem havia apenas uma garrafa de Vinho e uma rosa, que continha um vermelho tão vivo, que a velha não saberia explicar como conseguira permanecer naquele tom acetinado numa noite tão fria e úmida.
Ela se absteve um pouco, um décimo de segundo e seu coração dessa vez pulsara de alívio, talvez, mas agora batia aceleradamente e poderia ir para casa tranquilamente. Havia uma garrafa de Vinho ao lado do homem, obviamente que ele estivera comemorando com alguns amigos e bebera tanto que o seu corpo não sustentara o teor de álcool consumido.
Dava agora para ouvir o vento que soprava nas janelas ao leste da Rua Norte e as luzes densas dos postes clareavam um pequeno trecho de luz sobre a rua ladrilhada.
A mulher avançou, novamente, com cautela para próximo do homem e o medo por fim cessou e pôde enfim caminhar até o obstáculo grande e carrancudo que tanto lhe botara medo. Ouviu-se silvios e miados ao longe, mas ela estava acostumada com aqueles barulhos noturnos, e nem isso poderia botar-lhe mais medo quanto sentira até ainda há pouco.
Chegou ao corpo e com um baque deu-lhe um chute nas costelas com as pantufas imundas de gordura. Ouviu-se um estalido e ela sentiu vontade de gritar ao ouvido do homem mandando-o levantar-se e ir para a sua casa. “Porque estava pensando em fazer isso?”, “quando foi que ela começou a se importar com esse tipo de gente?”, “provavelmente deve ser um desses grã-finos que gastam dinheiros e mais dinheiros com coisas fúteis, enquanto ela, coitada, morava naquele fétido casebre que o marido deixou a ela antes de morrer.” A Velha agora, em vez de medo sentira nojo e desprezo pelo homem ali presente e sentiu de súbito uma enorme vontade de dar-lhe uma outra chutada
Pack!!!
O chute dessa vez havia surtido efeito, o impacto que o corpo sofrera fez com que a cabeça virasse para o lado em que ela estava. A velha desviou o olhar no mesmo intanste em que ouviu passos ao longe e tinha certeza de que não eram passos de gatos e muito menos silvios produzidos pelo vento. “Tinha alguém ali, presenciando a cena? Xeretando também? Observando o que ela iria fazer?”, “pois que fique claro que ela não era nem uma ladrona, disse à si mesma, e se perguntou se a pessoa ia chamar a policia...” Se reteve ao lado do corpo e não prestara atenção que a cabeça do homem tinha se virado pois estava submersa em pensamento de que havia alguém nas espreitas lhe xeretando, querendo lhe prender – no mínimo um surto, pois só o que ouvira foram passos.
Virou novamente para o corpo inerte e soltou um grande grito; um grito tão agudo que nem as suas velhas cordas vocais saberiam explicar como conseguira saltá-lo. Ele estava lá, olhando para ela. Os olhos abertos e desfocados, as pupilas estavam extremamente dilatadas, uma pálida e seca pele sob o sobretudo cinza. Havia um bigode sobre o nariz achatado e o mais espantoso de tudo, havia um colarinho entre a gola do sobretudo e uma camisa preta. O crucifixo com um Cristo em tom de bronze estava preso ao bolso esquerdo de sua camisa preta. Sim! Era um padre que estava ali, naquele escuro, deitado, bêbado, sem forças nem ao menos para chegar à sua capela, sem um pingo de vergonha e quebrando, provavelmente diversas leis sacerdotais.
Não, mas não estava bêbado, e não foi o próprio corpo que o fizera despencar no chão. Estava morto, alguém o matara e o deixara ali e a velha senhora soube por um súbito pensamento que o assassino estava espiando-a, na esguelha.
A Velha deu passos para trás em choque e tropeçou no próprio carrinho, que esquecera, derrubando tudo que era tralha, no momento de medo. Agora as luzes das casas começavam a reascender no meio da noite. “Mas como? Como é possível? Fora assaltado? Claro que não, velha burra, estou vendo aquele lindo relógio! Não me parece que fora machucado, está ilezo, sem feridas, sem sangue, sem marcas de violência...”, a cabeça da velha girava com diversas perguntas assombrosas e sem achar respostas caia cada vez mais na loucura que acabara de presenciar.
Os cortinados xadrezes das casas tinham brechas, que mostravam olhos esbugalhados contendo os olhares para a rua. Cachorros latiam ferozmente entre os cercados das casas. O vento parara de soprar e a velha em choque, não ousara se mover do chão.
Não havia mais nada para se fazer, não havia mais missa para se rezar, o padre estava morto. Morto e abandonado naquele chão imundo. Como se fosse um ninguém, um esmoleu, que padeceu até o ultimo instante da morte. Não, não padeceu, foi retirado de si a própria vida.
O restante da noite foi difícil para os moradores, que não pregaram os olhos de assombro, na expectativa de saber o que acontecera de fato, mas o medo de meter-lhes a pura e bonita vida em apuros os reteram todos em suas casinhas mal cuidadas pelo tempo presente. Viam-se viaturas militares em cada canto que cercava as esquinas da Rua Norte com a Rua Grisólia e não, não havia mais aquele sentimento de imensa solidão, pois havia pessoas demais entre as ruas. Comunicando-se umas com as outras, pessoas fardadas, com armas, fumando, chamando mais reforços policias, chamando legistas, chamando a mídia, procurando mais informações sobre o corpo falecido e tentando de uma forma ou de outra sugar informações da pobre senhora que estava em estado de choque e que tivera a má sorte de se encontrar naquele momento, na silenciosa Rua Norte...

( Há algum tempo ando trabalhando nisso e realmente é algo complicado. Nos envolve e nos tormenta ao mesmo tempo. Acho bacana ter iniciado e acharei um máximo quando conseguir terminar. E postei esse inicio para vocês, meus amigos imaginários. Espero que gostem)

inté mais...

5 comentários:

  1. Puxa.
    De caráter excepcionalmente DESCRITIVO sua estória realmente tem "realces" que motivam a leitura.
    Os detalhes impressionam e a lógica dos acontecimentos dão sentido ao contexto.

    Como início, vais bem e ganhe inspiração ainda mais para os próximos capítulos.

    Quero saber o que causou a morte do padre.

    Abraços!

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  2. Blog tá horrivel , sinceramente perdi meu tempo acessando isso, que se recupere froxo.

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  3. kkkk... TA Horriivel é vc ta aqui falando isso cara tenha vegonha vc não tem inteligencia para fazer um e fika aqui falando mal do blog aleiio
    kkk.. amigo ta lindo seu blog que continui assim
    perfeiito!
    e vc anonimo vá atraz do que fazer pQ ta com nada isso que vc fez ,

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  4. Ah! Tentarei melhorá-lo então. Agradeço a crítica negativa, sem dúvidas. Mas me sinto honrado com as criticas positivas. São elas que me fazem escrever sempre mais. Aos meus amigos imaginário.:)

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